Quarta-feira, 9 de Setembro de 2009

A carta

"4 de Abril de 1944

Algures no Pacífico

Estou aqui sentado na tenda, com uma chávena de café. Tenho estado à espera de uma altura calma para escrever esta carta, e essa altura chegou agora. Acabei de tomar um banho magnífico num curso de água, com duas redes esticadas dos dois lados para manter os crocodilos afastados. Depois, dei um passeio para apreciar a vista: coqueiros em pedaços, jipes capotados, e coisas afins. Ora bolas, acho que vou saltar o preâmbulo e vou já ao que interessa.

Kitty, parece que nunca serei o teu tipo de homem. Tu mudaste, e eu também. Não sou o homem a quem disseste adeus na estação de comboios. Ou talvez sempre tivéssemos sido diferentes e fosse preciso estarmos afastados para ver isso. Eu penso em ti. Penso muito em ti e nas tuas irmãs, também. As irmãs Heaney... Uau! As melhores dos arredores. Mas tudo o que está aí parece agora ser um filme, ou coisa assim, um filme completamente desfocado. Talvez fosse melhor se deixássemos de nos escrever. Parece-me que és capaz de ter mais coisas em comum com aquele outro tipo;  a modos que te denunciaste quando trocaste as cartas daquela vez. E, para ser franco, parece-me que tenho mais coisas em comum com a Tish. Espero não estar a magoar-te ao dizer isto.  Talvez já o saibas. Mas vê-se bem o esforço que fazes para me escrever e, para mim, também é dificil escrever-te. Não sei o que hei-de dizer.

Kitty, sabes que vou amar-te para sempre. Mas não dessa forma. Creio que gostavas que te tivesse dado uma pedra para o quarto dedo antes de me vir embora, mas não conseguia ver-nos casados, e agora sei que tinha razão. Espero que continuemos a ser amigos.

 

Julian

 

P.S. Obrigado pela fotografia que mandaste. Bonito chapéu! Sempre ficaste o máximo de chapéu."

 

Livro "Quando estiveres triste, Sonha", de Elizabeth Berg

 

Tudo isto parece algo da minha vida, mas não sei o quê... Nem sequer sei se é um parecer passado, presente ou futuro!

Vera às 16:00

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Emoção que abafa a lógica:
As palavras da menina-mulher que vive, que ama, que chora de tanto rir e que ri para não chorar.